EMOÇÃO

EMOÇÃO

O termo EMOÇÃO é usado para conceituar vários fenômenos, no entanto, muitos deles pertencem ao senso comum, ou seja, faz parte de um conhecimento popular e, portanto, aceito em nossa sociedade. Na linguagem científica, emoção tem um conceito mais específico e é desse conceito que vamos tratar aqui.

A emoção é um processo fisiológico que acontece no organismo diante de algum estímulo externo. É como se fosse um software programado para provocar uma resposta a eventos externos.

A palavra emoção deriva do latim emovere, onde o prefixo “e” significa afastar-se e “movere” significa mover, por isso dizemos que a emoção é um processo que convoca, direciona, exige uma ação do sujeito. Dito isso, é importante esclarecer que este processo não é unicamente fisiológico. Ainda que todo o processo inicie no organismo e afete o corpo, há também questões psicológicas envolvidas, como pensamento, experiência de vida, dentre outros que compõe a subjetividade humana. Isso significa que uma determinada situação que pode gerar raiva em uma pessoa, gere tristeza em outra. Mesmo quando duas pessoas sentem raiva diante da mesma situação, elas podem reagir de maneiras diferente.

A emoção sempre foi objeto de estudo da psicologia, já que ela é um processo que promove um comportamento. De acordo Matsumoto, as emoções são componentes de muita importância para as relações humanas (Matsumoto & Hwang, 2011) e, por isso mesmo, sua percepção é valiosa ferramenta para o profissional de psicologia.

Por ser um processo fisiológico, as emoções nos acompanham desde sempre; elas fazem parte da história da humanidade e foram preservadas ao longo da evolução das espécies. Sem elas, provavelmente não teríamos sobrevivido a todos os percalços ao longo de nossa história como humanidade. As emoções tiveram papel importante em nossa sobrevivência; o medo, por exemplo, nos fez recuar e fugir todas as vezes que nos deparávamos com perigos; a raiva nos impôs a lutar pelo que era necessário a sobrevivência. E o nojo? É ele que nos fez reconhecer substâncias nocivas.

Charles Darwin, na publicação do livro A expressão das emoções no homem e nos animais (Darwin, 1872), aponta a existência de emoções comuns entre seres humanos e animais. Essas emoções são chamadas de universais. Segundo Darwin, as emoções universais são as mesmas no homem e nos animais e estão ligadas diretamente a preservação das espécies, ou seja, o termo universal refere-se aquilo que é compartilhado por todos os seres humanos e, como aponta Darwin, também em alguns animais. A função dessas emoções é a preservação das espécies.

Anos mais tarde, o psicólogo estadunidense Paul Ekman, através de suas pesquisas realizadas nos Estados Unidos e alguns outros países, incluindo uma tribo isolada (os Fore) em Papua – Nova Guiné, identificou sete emoções universais, ou seja, aquelas programadas pela herança evolutiva compartilhada por todas as pessoas, independente da cultura, confirmando assim, a teoria de Darwin, que apontava a existência de seis emoções universais que são: raiva, medo, alegria, tristeza, surpresa e nojo. Ekman incluiu a sétima emoção universal: o desprezo. Esta pesquisa realizada em Papua Nova Guiné foi fundamental para Ekman validar sua teoria.

podemos dizer que mesmo havendo certas influencias da cultura e da subjetividade humana, há emoções básicas universais que, independente de milênios de existência da espécie humana e uma longa jornada de evolução, o desenvolvimento constante do cérebro e das civilizações,  elas continuam fazendo parte da nossa vida e atuando em nossa forma de agir no mundo, ou seja, elas ainda fazem parte da nossa programação biológica, pois “as emoções se desenvolvem e nos preparam para lidar rapidamente com eventos essenciais de nossas vidas” (EKMAN 2011, p. 36).

Por tudo o que as emoções representam na vida, no comportamento e, principalmente na vida psíquica do sujeito, sua percepção se faz necessário ao (a) profissional de psicologia para que o desenvolvimento do trabalho psicoterapêutico conte com informações enriquecedoras neste processo. Vale ressaltar que existem também as emoções chamadas de secundárias ou sociais. Segundo Ekman (2003), estas têm como base, as emoções primárias.

Podemos concluir que as emoções são processos biológicos que ocorrem como resposta a eventos externos, porém é também um processo que inclui a subjetividade humana, portanto, a ação realizada durante uma emoção é variada, já que cultura e experiências desempenham papel importante neste processo. Vejamos um exemplo fictício: Um homem discute com sua namorada em um ambiente público. Em meio a discussão o namorado agride a namorada fisicamente com um soco. Neste local há algumas pessoas passando; uma delas sente raiva e parte para cima do agressor para defender a moça, ou seja, ela ataca, o que é comportamento típico da raiva. Outra pessoa sente medo e corre para longe daquela cena. O medo promove o comportamento de fuga. Uma terceira pessoa também sente raiva, corre em direção a moça e a pega pelo braço afastando-a do agressor, entendendo que assim manterá a vítima segura até que a polícia chegue. Veja que nestes exemplos duas pessoas experienciam a mesma emoção e se comportam de forma diferente; outra pessoa, movida por outra emoção, tem outro comportamento diferenciado. Isso acontece porque cada uma dessas pessoas tem experiências diferentes, mesmo estando inseridas na mesma cultura. O que quero dizer com este exemplo é que cada pessoa pode ter uma emoção diferente (ou não) e emitir comportamento de formas diferentes em resposta ao mesmo evento, porém o processo fisiológico que ocorre durante essas emoções (as emoções universais) é o mesmo em todas as pessoas no mundo.

Principais eventos que geram emoções universais

Raiva: Impedimento. A percepção de sermos impedidos de fazer algo, pode gerar raiva.

Tristeza: Perda. Diante de uma perda, a probabilidade de ficarmos tristes é muito grande.

Medo: Ameaça. Ao perceber qualquer ameaça, principalmente à integridade física, tendemos a ter medo, já que o medo induz a fuga.

Surpresa: Acontecimentos inesperados. A surpresa é a emoção mais curta, pois, geralmente ela é uma emoção que nos prepara para outra emoção. Percebemos algo diferente e ficamos surpresos primeiro para depois termos outra emoção.

Alegria: Prazer. Eventos prazerosos geram alegria

Nojo: Componentes nocivos. Essa emoção surge toda vez que entramos em contato com alguma substância nociva. Recebemos a informação de que algo é nocivo, como por exemplo o cheiro de um alimento estragado, e sentimos nojo

Desprezo: Superioridade. Ao observarmos alguma situação que julgamos inferior, menos-valia, sentimos desprezo.

É preciso lembrar que antes da linguagem verbal, ou seja, a linguagem falada, a comunicação era não verbal. As pessoas precisavam entender as informações que o corpo emitia para conseguirem se comunicar. É exatamente por isso que ao emitir uma emoção, nosso corpo emite uma série de comportamentos. Veremos este tema mais detalhadamente na aba "Comunicação não verbal", onde falaremos sobre as expressões faciais das emoções, que compõe um dos fatores expressados no corpo ao experienciarmos uma emoção.

 

Referências bibliográficas

DARWIN, C. A expressão das emoções no homem e nos animais. São Paulo: Companhia das letras, 2009. 350 p.

EKMAN, P. A Linguagem das emoções. São Paulo: Lua de Papel, 2011

Matsumoto, D., e Willingham, B. (2009). Spontaneous facial expressions ofemotion of congenitally and noncongenitally blind individuals. Journal ofPersonality and Social Psychology, 96, 1–10. doi:10.1037/a001403